sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A vida é assim

Estou na terceira fase
E ainda não decorei o número da minha matrícula.
Então o que eu sei?
Alguma coisa. Que sou. Que penso.
Que duvido.
Entre outras coisas.
Se for colocar um grau
Pode até ser muito.
Mas o que eu não sei, então?
Graduar o que não sei pode ser difícil.
Pode ser impossível. Infinito.
Ou não. Pois acredito na natureza.
Concluo que a verdade seja e venha da natureza.
Se é assim lá em cima, aqui em baixo assim deve ser.
Sabe, natureza no sentido que os filósofos falam.
A "physis". A Arkhé.
Mas também pensavam isso pois não tinham o conhecimento que temos hoje.
Não chegamos ao fim, mas tenho bons motivos, boas razões, para acreditar que seja finito.
Que seja possível.
Início, meio, fim.
Começo, meio, fim.
Não posso ter certeza que o universo seja assim.
Mas sei de uma coisa.
A vida é assim.
E eu agradeço,
Seja lá como for,
Agradeço por ser assim.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Sou à toa


Estava deitada
E chegou até mim a ideia:
Poesia que nasce e morre no pensamento
Poesia que passa a ser nada.

São dias iguais

Que confundem o objetivo
E o objeto passa a ser supérfluo
Desde o dia da sua projeção.

Eu sou à toa, mas nem deveria ser

Eu tenho medo, mas nem deveria ser
E sou também a vaidade
Que eu nem deveria ter.

Gabriela de Oliveira

sábado, 1 de dezembro de 2012

O CHORO DO PÁSSARO



 Após sua passagem pelas quedas de água da fúria algo acendeu em seu intimo. Passou a viajar com o espirito acesso de serenidade. Um contraste aguçado pelo vento forte lhe soprando as vestes. Andou algumas horas sem rumo exato. Sobreviveria facilmente naquele lugar uma vida inteira se assim desejasse, era farto e fértil. Suas habilidades de caça lhe dariam recursos além do necessário.
O sol ainda alto lhe batia à face esquerda ofuscando parte de sua visão quando ouviu ao longe um som estranho. Jamais ouvira nada parecido. O gemido lembrava o choro de um pássaro grande numa melodia fora do comum. O volume intenso intercalava-se com pequenos silêncios rápidos, formando algo tão lindo quando a cantiga dos antigos que ouvia em sua terra natal. Aproximou-se curioso. Nunca havia ouvido um som tão esplendoroso e ritmado na vida. A musica dos antigos era triste e marcial, envolvida em cerimônias lentas e veneráveis. Esta era rápida e alegre.
Então incontáveis baques surdos romperam ao chão. Os choques seguiam a musica do choro do pássaro. Ainda não conseguia ver, pois tudo estava dentro de uma mata ao lado da estrada. Esqueceu da estrada, da cachoeira, dos campos tristes do sol, de sua jornada e ficou encantado enquanto ouvia a mais bela sinfonia existente.
Parou de solavanco junto do silêncio. Tudo emudecera e ele ficou afoito por saber qual a origem da melodia agora morta. Ao dar seu primeiro passo decidido em investigar a situação, o som retornou envolvente. Várias palmas marcaram um ritmo frenético que recomeçara. E o pássaro que gemia e chorava para alegria dos demais estava agora furioso em seu canto. Piava agudo trocando a intensidade do som rapidamente, acompanhado pelas palmas frenéticas de umas dez pessoas. Já podia ouvir risos e conversas. Apurou o passo puxado pela música e pela curiosidade. O sol novamente encheu sua vista quando saiu numa clareira larga onde muitas pessoas dançavam e bebiam.
Deitado confortável em almofadas postas a beira de um grande barril, com roupas extravagantes num tom verde musgo um homem magro e narigudo apertava e beijava um pedaço roliço de madeira com alguns furos produzindo o gemido do pássaro e as pessoas a sua volta riam e bebiam animadas. Não eram muitas e não pareciam preocupar-se com os perigos da floresta ou do mundo.
A melodia um pouco mais calma tranquilizou seu espirito. O senhor narigudo tinha longos cabelos brancos e falava através da madeira que beijava diretamente à alma dos presentes.
Observou atento os movimentos dos dedos do homem. E sentou-se para descansar ao seu lado quando novamente a música acelerou e ele foi arrastado para o meio dos demais. Uma mulher estranha lhe agarrou pelo braço e jogou-o rodopiando para o centro da roda. A musica preenchia de sentido e significado algo que pareceria loucura para qualquer um. Homens e mulheres girava e pulavam, balançavam os braços acenando e rindo. Ele apenas deixou-se levar. Esteve livre por alguns instantes, livre em seu interior profundo. Mesmo sendo controlado pelos dedos do homem deitado, aquela sequencia de fatos o deixou feliz, aliviado e livre.
Saiu da roda de dança tonto e caiu ao pé de uma arvore. Dormiu feliz sem mesmo dizer palavra a nenhum presente. E sonhou coisas belas em seu leito de madeira e grama tão confortável quanto os aposentos de qualquer rei. 

Luzes de Natal

Esta noite foram "inauguradas" as luzes do centro da cidade para o natal. 
Feriado, o Natal (do latim nativĭtas) é a natividade de Jesus Cristo.
Supostamente nasceu em Abril ou Maio e a tradição suporta o 25 de Dezembro.
Tanto faz. É um feriado onde um barbudo leva presentes para as crianças e as pessoas brincam de amigo secreto com os colegas de trabalho.

Passando na segunda rua depois da praça, voltando para casa, escuto a seguinte frase:
"O papai noel vai acender as luzes de natal para trazer alegria e esperança para o povo".

Alegria: s.f. Forte impressão de prazer causada pela posse de um bem real ou imaginário: pular de alegria.
Júbilo, contentamento, gáudio.

Esperança: s.f. Expectativa de um bem que se deseja: a esperança é grande consoladora.

Se eu perguntar para você: "O que é felicidade? O que é alegria?", tenho certeza de que terei centenas de respostas diferentes. Cada um tem o seu conceito sobre seus sentimentos.
Mas acredito que a maioria concordaria comigo que alegria é ter saúde, ter estrutura, ter investimento em cultura, esperança é construir postos de pronto atendimento, hospitais, esperança é investir na pesquisa contra doenças! E não luzes para uma religião que aceita o sacrifício humano.


Discurso vazio. É todo argumento que essa frase merece. Discurso vazio.
Chega a ser triste que afrente do povo esteja uma pessoa que pede para um ser imaginário - ou fantasiado - acender as luzes de natal. 

E se o outro tivesse sido eleito? - Você me pergunta - Teria sido melhor?
Se outro tivesse sido eleito e, da mesma forma, também solicitasse que as luzes de natal fossem acesas por tal ser, para tal finalidade, eu estaria igualmente decepcionado.