sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Poder para tudo

Posto esse conto apesar de ainda não o considerar terminado. Aceito sugestões! ^^ 


As tensas horas anteriores ao sol lembravam-no das trevas em seu passado. A luz baixa do poste decrépito lavava seu rosto de um amarelo assombroso. Olha direto para o ponto luminoso esperando os olhos cansarem ou a luz recuar. O tímido e velho poste oferece um ultimo refúgio de luz frente o mar de negro, estendido logo a frente, até seu destino. A remota saída da cidade se apresenta e nenhum arrependimento consta no caminho.
Solitário adentra a escuridão reinante. Anda em noites comuns carregando certo aspecto épico de fim dos tempos. Preparado para dar o ultimo passo a cada instante. Levanta o queixo altivo, fixando os olhos no horizonte escuro, ouvindo o zumbir distante da vida se rastejando a produzir um tom salgado, severo e profundo muito repetitivo. O retumbar da existência num eco seco, constante, irritadiço rasgando a sanidade de qualquer frade.
Desejou lembrar uma primavera há muito perdida. Algo infantil enterrado por anos compridos. Uma leve paz de espírito lhe acometeu, nada além. Essa era a impressão que restara da infância. Uma paz de espírito. Alguns desejos repetidos. Uma musica boba. E uma primavera perdida.
Leva-o, o ar, a benção da noite fria acalmando seus músculos e o toque triste da esperança. Também nesse ar há presença do medo cravado na incerteza. Toda raça teme o incerto do crepúsculo e espalha na noite esse medo inconsciente aromatizando o vento. “Ventos que cheiram medo”, pensa. Segue o rastro desses, pois tenciona conhecer os medos todos. Desejo, do fundo d’alma, temer também, pois desde sempre não conhece tal sentimento.
Enfrentou o vento. Varava-o altivo em busca de algo a temer. Cruzava terras hostis sem destino, cuidado e nome. Jamais homem qualquer pôs nele vestígio de medo, seja Deus ou mortal.
Em seu intimo cultiva um poder tão natural quanto a força nos braços ou a pele na cara. Ainda jovem sabia dessa habilidade, dessa possibilidade de fazer tudo. Dessa ultra potência caótica. Sentia-se essencialmente infinito entrelaçado num gigantesco presente enraizado e vistoso. Assim conhecia o tempo, tirânico em suas decisões e infinito nas possibilidades. Era eterno.
Pouca ou nenhuma obrigação conheceu. Esmagou os interditos. Atropelou os recalques. Sobrepôs toda moral. Transcendeu a simples e banal consciência humana. Esse era seu triunfo não planejado.