quarta-feira, 9 de março de 2011

Desespero (IV) - As cinco ilusões do amor

O relógio insiste em perturbar o que antes era intocado: toda a paciência e estabilidade necessária.
Seus ponteiros perigosos agem como se sempre estivemos atrasados.
Como se todo o tempo do mundo não bastasse para ser feliz e só.
Os movimentos calculados e nada prodigiosos nos arrastam para cometermos novas bobagens e deslizes sem fundamentos. O tempo todo.
Como é fácil estragar uma vida inteira e ruir por momentos vãos. Difícil é entender por que fazemos isso.
Tão fácil quanto destruir os mundos alheios é afundar nossa vida em ilusões e sonhos improvisados.
O tic tac sempre nos remete a pressa invisível das coisas. É como se só o agora fosse o momento certo (e não é?), mas o desespero com que vemos os milagres ao nosso redor faz as coisas perderem seus valores.
Ser feliz e dar adeus a todo o resto já não basta. Não mais.
O desespero com que apresentamos o amor em nossas vidas nos torna obsessivos, pois em algum momento descobrimos suas imperfeições. (sentir amor já não basta...)
Não somos capazes de amar algo pelo simples fato do amor dedicado a este. Nem se este lhe falta.
Amarramos em nossa vida qualquer amor, fazê-mo-lo de escravo e matamo-o a cada novo instante.
Perdemos pelo fato de não deixá-lo livre de nós e nem nos capacitamos a isso.
Não procure muitas explicações para o fracasso. Não há “porquês” justificáveis para tal ato.
Não basta sonhar um sonho melhor se não somos capazes de vivê-lo dignamente.
Olhos que apenas olham, jamais chegarão a ver a profundidade da alma.
Logo existimos de novo sem amor.