quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A vida dos outros

07/10/2009
04:03

Eu olho pela janela e vejo mais um dia de atrasos.
Mais um dia ausente para ser vivido. Apenas uma nova estatística a ser amontoada em arquivos governamentais. Entre prateleiras desconhecidas...
Lá fora todas as leis existentes não podem acalentar seus medos cotidianos, nem suas faltas pessoais. Numa rua vazia seus filhos inventam uma nova droga. Outra maneira para protestar contra faltas e abusos morais. Olhe mais de perto.
Os donos da lei escondem-se entre muros e brincam com suas armas de brinquedo. Enquanto lá em cima o moro pega fogo. Mata gente. Morre a paz.
Aqui embaixo o trânsito (cruel e letal) cria novos cânceres, novos maníacos...
Esta mesma enganação te leva aonde sempre deseja chegar: ao cumprimento de sua estúpida rotina.
Neste mesmo farol em que você lixa suas unhas (pinta o olho, acende outro escape...) o pedinte ladrão faz sua nova vitima.
Mas isso o banco já faz com suas sutilezas sem limites. Isso os políticos também fazem com suas promessas maravilhosas. E o governo faz... e seus vizinhos... parentes...
Esta mesma rua que se ocupa deste amontoar de dióxido o leva também até seu “doce lar”. E lá repousa sua família perfeita. Uma esposa sorridente prepara o jantar do ontem.
Hoje, insatisfações conjugais a ela até o outro lado da cidade. Sua comida agora dorme na agilidade dos meios.
E desta mesma janela posso comprar o que há de mais ilegal e a facilidade com que isso se apresenta a mim acaba deixando de ser crime aos meus olhos.
Um ato (que julgamos) moral nos torna inocentes de nossas próprias falhas.
Ligo a TV para mais uma desgraça. Parece que a natureza esta acertando as contas finalmente. O superior nunca dorme...
Nestes mesmos dias de ilusões as Marias jogam pôquer no porão do restaurante chinês.
Mas isso era para ser outro segredo... quantos mais haverão de guardar?
Na esquina desta mesma rua, lindas meninas fazem de seus corpos uma porta sempre aberta. E quem ousaria fechá-las?
E nestas calçadas de estrelas douradas, seres “inúteis” fazem suas memoráveis refeições. Sonhando com a dignidade que sempre lhes roubamos. Com os dias do amanhã. Com mais uma dose.
Os poucos que ainda preservam esta milagrosa dignidade encontram-se dentro de casa escondidos entre vidros escuros e quartos vazios. Entre decepções mundanas e livros empoeirados...
Repousam em silencio esperando a morte chegar...